Pauta do STJ é aposentadoria de Eliana Calmon
Na
 festa de casamento da filha do ministro do Superior Tribunal de Justiça
 João Otávio Noronha, que aconteceu na sexta-feira (22/11) em Brasília, 
duas mulheres se dividiam entre os assuntos principais das conversas. Só
 se ouviam dois comentários: "Como a noiva está linda!" e "você viu quem
 vai aposentar?". Todo mundo tinha visto e sabia que era a ministra 
Eliana Calmon.
Foi daquelas situações embaraçosas. Um ia contar um
 segredo pro outro, e o outro já vinha com detalhes sobre o mesmo caso. A
 ministra tem conversado com os colegas do tribunal para colocar os 
funcionários de seu gabinete à disposição. Ela tem dito que pode 
cedê-los ao gabinete de um colega antes de sair, para evitar que o 
assessor tenha de pedir a transferência para um ministro recém-chegado, 
ou, pior, tenha de sair do tribunal para depois voltar. A “oferta” é 
para que a corte não perca os assessores, já experientes e tão 
benquistos por ela.
Ninguém estranhou a dilapidação funcional da 
ministra. Todos dizem que ela, inclusive, já pediu a aposentadoria ao 
presidente do STJ, ministro Felix Fischer, na própria sexta-feira. 
Também dizem que ela pediu para que a publicação da aposentadoria só 
seja feita no dia 18 de dezembro — o último dia forense útil em Brasília
 é 20 de dezembro, quando começa o recesso.
A
 ministra nega. Disse estar preocupada com a circulação de informações. 
“Cada dia é uma notinha numa coluna diferente”, brincou. A preocupação 
principal é que, como membro da 1ª Seção, Eliana julga matéria 
administrativa, que tem a ver com política e políticos. Como membro da 
Corte Especial, a ministra julga ações penais contra detentores de foro 
especial por prerrogativa de função. Ou foro privilegiado, como ficou o 
apelido. “Não quero misturar as coisas, ainda estou no tribunal”, 
encerrou.
A palavra “ainda” toma contornos interessantes, dada a 
situação atual. Ministros também comentam que Eliana Calmon sai no 
recesso forense e não volta mais para o tribunal. Estão certos de que 
vai se filiar a algum partido para sair candidata ao Senado. Só não se 
sabe qual partido. Nem ela sabe. Uns dizem que será o PSB, a legenda de 
Eduardo Campos, que fará oposição ao PT na corrida presidencial. Outros 
dizem que será o PDT, com quem ela “tem uma ligação muito forte”.
Eliana
 passou a última semana reunida com seus assessores na Escola Superior 
de Aperfeiçoamento de Magistrados, a Enfam, da qual é diretora. Estava 
estruturando um curso que começa esta semana. Seus colegas do conselho 
superior da Enfam contaram que ela, emocionada, se despediu deles e da 
magistratura. Os que não são do STJ lamentaram, pois consideram que ela 
fez um “excelente trabalho”, tanto na escola quanto como juíza. Os do 
STJ, nem tanto. “Tinha gente soltando rojão na festa de ontem”, comentou
 um ministro que estava no casamento.
Políticos de toga
Ninguém é contra a ministra se candidatar. Muito pelo contrário, como se diz. Acham até que ela tem vocação para a política e pode fazer um bom trabalho no Senado. Mas criticam a forma como ela vem conduzindo o episódio. Consideram que o fato de ela dizer para todos que vai sair, mas negar em público e ficar em cima do muro quando conversa com a imprensa sobre a possibilidade de sair candidata é uma manobra pensada.
Ninguém é contra a ministra se candidatar. Muito pelo contrário, como se diz. Acham até que ela tem vocação para a política e pode fazer um bom trabalho no Senado. Mas criticam a forma como ela vem conduzindo o episódio. Consideram que o fato de ela dizer para todos que vai sair, mas negar em público e ficar em cima do muro quando conversa com a imprensa sobre a possibilidade de sair candidata é uma manobra pensada.
“Ela
 está usando do cargo para criar fatos políticos e deixar o nome dela em
 evidência”, analisou um ministrou. "Se ela vai sair candidata, que saia
 do tribunal e faça sua campanha", reclamou outro. "Nada contra a 
ministra, até a considero uma pessoa séria e responsável, mas é essa a 
postura que se espera de uma pessoa que se dizia paladina da justiça 
dentro do Judiciário? Da pessoa que estava à caça dos ‘bandidos de 
toga’?", disse outro deles à revista Consultor Jurídico.
Os
 tais "bandidos de toga" foram usados, metaforicamente, pela ministra 
durante uma entrevista. Dada a frases de efeito, quando era corregedora 
nacional de Justiça Eliana Calmon tomou como meta de trabalho acabar com
 a corrupção no Judiciário. Era o que ela reputava ser o grande problema
 da Justiça brasileira. Aí disse que havia "muitos bandidos escondidos 
atrás da toga" que precisavam ser expurgados da carreira. A conduta 
deles, afirmava, não condizia com a magistratura.
Cadeira vazia
A saída de um ministro do STJ antes da hora tem suas consequências. A principal delas é a cadeira deixada. Eliana Calmon ocupa uma das vagas reservadas à Justiça Federal no STJ. Seu substituto deverá, por regra constitucional, ser desembargador federal como ela, que foi do TRF-1 por dez anos e juíza federal por outros dez.
A saída de um ministro do STJ antes da hora tem suas consequências. A principal delas é a cadeira deixada. Eliana Calmon ocupa uma das vagas reservadas à Justiça Federal no STJ. Seu substituto deverá, por regra constitucional, ser desembargador federal como ela, que foi do TRF-1 por dez anos e juíza federal por outros dez.
E aí é que está o 
problema. O ministro Castro Meira, que aposentou recentemente, também 
era de uma vaga reservada aos TRFs. A lista tríplice dos candidatos à 
sua vaga que será encaminhada à presidente da República foi decidia pelo
 Órgão Especial na quarta-feira (20/11). Entraram os desembargadores 
federais Néfi Cordeiro (TRF-4), Gurgel de Faria (TRF-5) e Ítalo Mendes 
(TRF-1).
Por mais que a ministra tenha feito o comunicado formal 
ao ministro Fischer na sexta, a iminência de sua aposentadoria já fosse 
mais que sabida no tribunal. E como dificilmente vai dar tempo de os 
candidatos não escolhidos pela presidente Dilma Rousseff se candidatarem
 novamente, muitos ministros acham que o presidente deveria esperar. A 
consequência da pressa é que a lista decorrente da aposentadoria da 
ministra Eliana provavelmente será composta pelos candidatos não 
escolhidos pela Corte Especial na última quarta. “O presidente se 
precipitou”, afirmou um dos ministros.
 
 
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