Manifestante, bandido e terrorista.
O manifestante tem direito e liberdade de criticar, de se reunir, de protestar, ainda que isso cause certa “desordem pública”...
Publicado por Luiz Flávio Gomes -
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Manifestante
é manifestante, bandido é bandido e terrorista é terrorista. O
legislador e a polícia estão confusos (por ignorância ou por má-fé) e
não estão sabendo distinguir o joio do trigo. Manifestante legítimo, que
está descontente com sua situação salarial ou com a brutal desigualdade
aqui implantada ou com sua crise de governabilidade do país, que não
lhe oferece serviço público de qualidade (educação, saúde, transportes
etc.), não é bandido, porque ele não faz uso da violência, não sai por
aí quebrando bens públicos ou privados, não usa máscara e não recebe
nenhum dinheiro para jogar no time do “quanto pior melhor”. O
manifestante tem direito e liberdade de criticar, de se reunir, de
protestar, ainda que isso cause certa “desordem pública” (no trânsito,
nas vias públicas). O projeto que criminaliza genericamente a desordem
pública é mais reacionário que a legislação da ditadura militar e
aniquila todas as liberdades duramente conquistadas pelo povo.
Bandido
é outra categoria, é o que sai mascarado quebrando tudo que vê pela
frente, é o que não respeita nem coisas nem pessoas, é o que ganha para
promover a quebradeira geral, é o que criminosamente dispara rojões para
matar pessoas. Os bandidos são contra a democracia, não querem dialogar
e usam a violência como meio de protesto. Devem ser reprimidos, não há
dúvida, mas para isso não necessitamos de novas leis penais, o que
sempre dá ensejo ao charlatanismo dos legisladores oportunistas, que
vivem em busca de gente tola que acreditem neles nesse terreno do
“combate” (falacioso) à criminalidade e à violência.
Bandidos
comuns, como os que mataram o jornalista Santiago, não têm nada a ver
com o terrorismo, que exige não só uma estrutura organizacional
sofisticada como uma motivação ou finalidade especial (política,
separatista, racista, religiosa, filosófica etc.). Todo terrorista é um
homem/mulher-bomba (real ou potencial), mas nem todo homem/mulher-bomba
ou que solta bomba é um terrorista. O legislador brasileiro, que já
enganou todo mundo várias vezes com suas leis penais vigaristas, que
nunca diminuíram a criminalidade, se esquece que “pode-se enganar a
todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não
se pode enganar a todos o tempo todo” (Abraham Lincoln).
De 1940
a 2013 o legislador aprovou 150 novas leis penais, sendo 72% mais
severas. Essa política pública está errada, porque não reduz o crime. (vide abaixo minha opinião sobres esta colocação)
Todo mundo viu e filmou o rojão que matou Santiago, menos a polícia, que
não tem treino para agir preventivamente. Espera-se a morte chegar para
depois reagir. O grande erro é não termos políticas públicas de
prevenção do delito, tal como fazem os países de capitalismo evoluído e
distributivo (Dinamarca, Canadá, Japão, Coreia do Sul etc.), fundado na
educação de qualidade para todos, na ética e no conhecimento científico.
Artigo para livre publicação.
LUIZ FLÁVIO GOMES, 56, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Twitter: @professorlfg
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