Fundo Partidário pagou defesa de condenados do PT e PR
Os diretórios nacionais do PT e do PR contrataram com recursos
públicos, provenientes do Fundo Partidário, os mesmos advogados que
representam, na esfera privada, condenados no julgamento do mensalão e
réus acusados de corrupção após as investigações das operações Porto
Seguro e Sanguessuga, da Polícia Federal.
Documentos das
prestações de contas dos dois partidos em 2012 e 2013, apresentados ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostram repasses de até R$ 40 mil
mensais para os escritórios, que atuam para clientes como ex-presidente
do PT José Genoino e a ex-chefe de gabinete da Presidência da República
em São Paulo Rosemary Noronha.
Dos três escritórios pagos
pelo PT com recursos de origem pública no período analisado, dois
disseram trabalhar de graça e um "a preços módicos" para os envolvidos
nos processos. Questionados, todos atribuíram os pagamentos a serviços
prestados exclusivamente ao partido.
No processo do PR,
referente ao exercício de 2013, a reportagem localizou três notas
fiscais de R$ 42 mil cada, do escritório do criminalista Marcelo Luiz
Ávila de Bessa - que defendeu o ex-presidente nacional da sigla,
Valdemar Costa Neto, e o ex-deputado Carlos Alberto Rodrigues, o Bispo
Rodrigues, no julgamento do mensalão.
Consultado, o
partido admitiu que o dinheiro do Fundo Partidário foi usado para bancar
as defesas de Valdemar e Bispo Rodrigues. Os dois estão presos em
Brasília após serem condenados por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. O julgamento do mensalão teve início em 02 de agosto de 2012 e
foi encerrado dezembro do mesmo ano no Supremo Tribunal Federal. Por
causa dos recursos (embargos) apresentados pelas defesas, as sentenças
finais só foram declaradas em março deste ano.
O PR afirma
que contratou a banca para cuidar dos processos criminais de seus
parlamentares e dos integrantes da Executiva Nacional. O pacote também
inclui as defesas de filiados acusados de envolvimento com a Máfia dos
Sanguessugas - esquema descoberto em 2006, que desviava recursos
federais para a compra de ambulâncias.
Repasses para pagar
honorários foram feitos por meio de cheques da presidência do partido,
descontados da conta usada para movimentar a verba do Fundo Partidário. A
Lei dos Partidos Políticos, que disciplina a aplicação dos recursos,
não prevê a cobertura de gastos de natureza privada.
Para o
presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, há no caso uma
"impropriedade manifesta", pois recursos de origem pública não podem
bancar despesas com honorários de processos criminais, de cunho
"pessoal" (mais informações nesta página).
'cortesia'
O
PT pagou em 2012 e 2013 ao menos R$ 485 mil ao escritório Fregni -
Lopes da Cruz por honorários de ações cíveis, conforme 15 notas fiscais
apresentadas ao TSE. Em Brasília, a equipe de advogados defende o
ex-presidente do partido, José Genoino em processos no quais ele é
acusado de improbidade administrativa. As ações movidas pelo Ministério
Público são um desdobramento na esfera cível do caso do mensalão.
Na
esfera criminal, Genoino foi condenado por corrupção ativa no
julgamento no Supremo. Ali, foi representado por outra banca. No último
dia 30, ele foi levado para a prisão, em Brasília, por ordem do
presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa.
A advogada
Gabriela Fregni nega que repasses do partido cubram a defesa de Genoino.
Ela afirma que o escritório tem uma relação antiga com o petista, que
anos atrás pagou "honorários módicos" por trabalhos da equipe. Hoje,
explica, não há contrato regulamentando outros pagamentos, tampouco
débitos pendentes. "Quando essas ações (de improbidade) iniciaram, a
gente passou a cuidar disso por uma cortesia que a gente tinha com ele",
afirmou.
Em 2013, o diretório nacional petista pagou
ainda R$ 75 mil ao escritório de Márcio Luiz Silva, advogado de Brasília
que atuou nas defesas dos ex-deputados Professor Luizinho e Paulo
Rocha, absolvidos pelo STF das acusações de lavagem de dinheiro no
julgamento do mensalão.
O advogado disse que trabalhou para
os dois políticos de graça. "Fiz isso em caráter de amizade, não teve
cobrança", sustenta. Embora mantenha procuração nos autos do processo,
Silva afirma que, na prática, atuou apenas até as alegações iniciais do
julgamento, passando o bastão para criminalistas depois.
Em
junho de 2013, ele firmou com o PT contrato de R$ 180 mil, valor a ser
pago em 12 parcelas de R$ 15 mil. O documento prevê serviços de
assessoria e consultoria nas áreas de "direito eleitoral, constitucional
e político-institucional". "Faço representação institucional do partido
no TSE", afirmou.
Luiz Bueno de Aguiar, advogado próximo
de petistas influentes, atuou para a ex-chefe de gabinete da Presidência
em São Paulo Rosemary Noronha logo após a Polícia Federal deflagrar, no
fim de 2012, a Operação Porto Seguro. Aguiar recebeu ao menos R$ 809
mil da legenda nos últimos dois anos de recursos originários do Fundo
Partidário. Ele afirma que tem contrato antigo para cuidar de causas
cíveis do PT.
O inquérito da Porto Seguro apontou
participação da ex-funcionária num esquema de venda de "facilidades" na
administração pública. Rose foi denunciada pelo Ministério Público
Federal e responde a ação penal por formação de quadrilha, tráfico de
influência e corrupção passiva. conforme o TSE, ex-chefe de gabinete da
Presidência em São Paulo é filiada ao PT desde 1989.
Questionado,
Aguiar disse que atuou para Rose num primeiro momento, acompanhando-a
em audiências na PF, também a custo zero. "Há emergências que você
atende, a clientes antigos, que não cobra." As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
FONTE: PORTAL A TARDE
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