MPF/SP denuncia manutenção de 51 trabalhadores em condição análoga a de escravidão.
terça-feira, 6 de maio de 2014
O Ministério
Público Federal em Piracicaba (MPF/SP) denunciou quatro pessoas por
manterem 51 trabalhadores em condições análogas às de escravos em uma
oficina de costura em Americana, no interior de São Paulo. Entre as
vítimas estavam 45 bolivianos, dos quais 13 viviam em situação irregular
no Brasil.
A lista de
denunciados inclui o boliviano Narciso Atahuichy Choque, dono da
confecção onde os empregados foram resgatados, e as brasileiras
Rosangila Theodoro, Sonia Aparecida Campanholo e Silva Regina Fernandes
Ribeiro da Costa, respectivamente sócia e funcionárias da Rhodes
Confecções Ltda..
O caso foi
descoberto durante operação do Ministério do Trabalho e Emprego entre
maio e agosto de 2011. Na ocasião, constatou-se que diversos desses
trabalhadores se dedicavam à confecção de peças de vestuário da marca
Zara, encomendadas pela Rhodes. A empresa funcionava como fornecedora
direta da grife espanhola, mas, como não possuía capacidade produtiva
para atender à demanda, repassava as encomendas recebidas para outras
confecções, como a do boliviano.
Para o MPF, as
brasileiras tinham conhecimento da situação vivida pelos trabalhadores,
mas fecharam os olhos para as irregularidades visando baratear as peças.
De acordo com a denúncia, tanto Sonia quanto Silvia faziam visitas
frequentes à oficina para vistoriar a produção, e Rosangila, apesar de
ter afirmado desconhecer as condições de trabalho no local, tinha
ciência da utilização de mão de obra barata ao contratar empresas sem
idoneidade econômica, como a do denunciado.
Crimes - Os
empregados eram submetidos a jornadas exaustivas de até 14 horas diárias
e a condições degradantes de trabalho. Diversos direitos assegurados
pela legislação trabalhista eram ignorados, como o registro em carteira,
fornecimento de equipamento de segurança e o descanso mínimo durante a
jornada. Além disso, no caso dos estrangeiros, os três primeiros
salários eram retidos indevidamente para a quitação das dívidas
adquiridas com transporte e alimentação no trajeto da Bolívia para o
Brasil.
A oficina
funcionava também como alojamento dos trabalhadores e as instalações
eram insalubres. Segundo a denúncia, havia quartos sem ventilação,
alimentos armazenados no chão e banheiros em mau estado de conservação e
limpeza. No local ainda moravam três menores, sendo dois bebês.
Durante a operação
do Ministério do Trabalho, o imóvel foi interditado devido às más
condições de higiene e ameaças à segurança dos trabalhadores. A
fiscalização constatou perigo de choque elétrico, incêndio, explosão e
até risco de morte por asfixia em caso de vazamento de gás, por conta da
grande quantidade de material inflamável, instalações elétricas
improvisadas, extintores de incêndio vencidos e falta de ventilação.
Além disso, Narciso
Choque restringia a liberdade de locomoção dos trabalhadores bolivianos
por causa das dívidas adquiridas com as despesas da viagem para o
Brasil, que eram pagas por ele. De acordo com a denúncia, o único portão
de entrada do alojamento permanecia fechado com cadeado e nenhum dos
trabalhadores consultados pela equipe de fiscalização possuía a chave.
O boliviano e as
três brasileiras foram denunciados nos artigos 149, por reduzir alguém a
condição análoga à de escravo, e 203, por frustrar direito assegurado
pela legislação do trabalho, ambos do Código Penal. O número do
inquérito para acompanhamento processual é 0001164-18.2014.4.03.6134.
FONTE: MIGALHAS 3360
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