Conflito de entendimentos
STJ define R$ 10 mil como insignificância para o crime de descaminho
O
princípio da insignificância só é aplicável ao crime de descaminho —
previsto no artigo 334 do Código Penal — quando o valor dos tributos não
pagos for inferior a R$ 10 mil. De acordo com entendimento da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, esse limite não pode ser alterado por portaria do ministro da Fazenda, mas apenas por lei.
O
limite de R$ 10 mil foi instituído pela Lei 11.033/04 (que alterou a
Lei 10.522/02) como valor mínimo para a Fazenda Nacional executar
dívidas fiscais. Posteriormente, a portaria 75/12, do Ministério da
Fazenda, elevou esse valor para R$ 20 mil. Para o TRF-4, se a
administração fazendária decidiu não executar débitos abaixo de R$ 20
mil, esse também deveria ser o limite para a aplicação do direito penal
aos casos de descaminho.
O Ministério
Público Federal recorreu ao STJ contra a decisão do TRF-4, que concluiu
pela atipicidade da conduta levando em conta o princípio da
insignificância e trancou a ação penal.
Ressalva pessoal
O relator do recurso no STJ, ministro Rogerio Schietti Cruz, destacou que o tribunal, ao julgar em novembro passado o Recurso Especial 1.112.748 sob o rito dos repetitivos, manifestou-se pela possibilidade de aplicação do princípio da insignificância quando o valor do tributo devido não ultrapassar R$ 10 mil, seguindo assim o entendimento do Supremo Tribunal Federal.
O relator do recurso no STJ, ministro Rogerio Schietti Cruz, destacou que o tribunal, ao julgar em novembro passado o Recurso Especial 1.112.748 sob o rito dos repetitivos, manifestou-se pela possibilidade de aplicação do princípio da insignificância quando o valor do tributo devido não ultrapassar R$ 10 mil, seguindo assim o entendimento do Supremo Tribunal Federal.
Na ocasião,
mesmo reconhecendo que a questão era pacífica no STJ e no STF, o
ministro ressalvou seu entendimento pessoal, contrário à vinculação do
princípio da insignificância ao valor da dívida mínima executável.
Ele
criticou esse entendimento jurisprudencial, “que parte de uma opção de
política administrativo-fiscal, movida por interesses estatais
conectados à conveniência, à economicidade e à eficácia administrativas,
para subordinar o exercício da jurisdição penal à iniciativa de uma
autoridade fazendária”.
Schietti
afirmou que a aplicação da insignificância a crimes tributários de até
R$ 10 mil contrasta com os parâmetros adotados pelos tribunais em
relação à “criminalidade de rua”, lembrando que o STJ já se negou a
considerar insignificante o furto de uma colher avaliada em R$ 4,00 só
porque um muro foi escalado para a prática do crime.
Cobrança administrativa
Ainda segundo o ministro, a análise para a aplicação da insignificância não pode ocorrer unicamente sob a ótica da conveniência da administração tributária, pois o bem jurídico tutelado no crime de descaminho não é apenas o erário. Para ele, outros valores estão envolvidos, como o prestígio da administração pública, a regulação da balança comercial e a proteção à indústria nacional.
Ainda segundo o ministro, a análise para a aplicação da insignificância não pode ocorrer unicamente sob a ótica da conveniência da administração tributária, pois o bem jurídico tutelado no crime de descaminho não é apenas o erário. Para ele, outros valores estão envolvidos, como o prestígio da administração pública, a regulação da balança comercial e a proteção à indústria nacional.
Além
disso, prosseguiu, a opção da Fazenda de deixar de executar dívidas
inferiores ao limite estabelecido não significa que o Estado tenha
perdoado o débito fiscal, o qual poderá ser cobrado administrativamente.
“Não
há a declaração de extinção da dívida pelo Estado, mas unicamente uma
opção de não cobrar a dívida. Como, então, estabelecer para fins penais
um valor considerado em sede executivo-fiscal, com base apenas no custo
benefício da operação, se não houve, de fato, a renúncia do tributo pelo
estado?”, questionou o ministro.
Efeito retroativo
Em seu voto, Schietti destacou ainda que o STF, em julgamento recente, considerando a portaria do Ministério da Fazenda, admitiu a incidência do princípio da insignificância em casos de descaminho de até R$ 20 mil.
Em seu voto, Schietti destacou ainda que o STF, em julgamento recente, considerando a portaria do Ministério da Fazenda, admitiu a incidência do princípio da insignificância em casos de descaminho de até R$ 20 mil.
No
entanto, o ministro entendeu não ser possível que o ministro da
Fazenda, por meio de portaria, altere o patamar fixado para o
arquivamento de execuções fiscais, já que o valor foi estabelecido por
lei e somente outra lei poderia mudá-lo — como ocorreu com as Leis
10.522 e 11.033.
Mesmo se a Portaria
75 fosse válida, acrescentou o relator, ela ainda assim não poderia ser
aplicada retroativamente no caso, cujos fatos se deram antes de sua
edição: “Não se trata aqui de norma penal mais benéfica, dotada de
retroatividade. A norma penal está descrita no artigo 334 do Código
Penal, que, em momento algum, foi modificado. O que sofreu alteração foi
tão somente o critério utilizado pela Fazenda Nacional para o
arquivamento, sem baixa na distribuição, das execuções”. Com informações da assessoria de imprensa do STJ.
FONTE: Revista Consultor Jurídico
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